A Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, tece um rico panorama sobre a natureza divina de Jesus Cristo, seu papel central na criação e na salvação da humanidade. Essas verdades são reveladas progressivamente, culminando na plenitude da revelação em Jesus.
No Evangelho de João, Jesus faz sete declarações enfáticas que começam com "Eu Sou". Essas frases não são meras afirmações sobre sua identidade, mas revelações profundas de sua divindade e de seu papel essencial na salvação. Ao proferir essas palavras, Jesus ecoa diretamente o nome que Deus revelou a Moisés na sarça ardente, em Êxodo 3:14: "EU SOU O QUE SOU". Esta é uma declaração de existência auto-suficiente, eterna e imutável.
As sete declarações de Jesus "Eu Sou" no Evangelho de João, cada uma delas, apontam para aspectos cruciais de quem Ele é e do que Ele oferece:
"Eu Sou o pão da vida" (João 6:35): Jesus se apresenta como a fonte de sustento espiritual e vida eterna, satisfazendo a fome mais profunda do ser humano.
"Eu Sou a luz do mundo" (João 8:12): Ele é a verdade que dissipa as trevas da ignorância e do pecado, guiando a humanidade.
"Eu Sou a porta das ovelhas" (João 10:7): Jesus é o único acesso à salvação e à segurança no rebanho de Deus.
"Eu Sou o bom pastor" (João 10:11): Ele cuida, protege e dá sua vida por suas ovelhas, demonstrando amor supremo.
"Eu Sou a ressurreição e a vida" (João 11:25): Jesus tem poder sobre a morte, sendo a fonte da vida eterna para aqueles que nele creem.
"Eu Sou o caminho, e a verdade, e a vida" (João 14:6): Ele é a única via para Deus Pai, a verdade absoluta e a própria essência da vida.
"Eu Sou a videira verdadeira" (João 15:1): Jesus é a fonte de vida e frutificação para seus seguidores, que devem permanecer conectados a Ele para viverem plenamente.
Essas declarações são um testemunho inegável da consciência de Jesus sobre sua própria divindade e sua conexão intrínseca com o Deus do Antigo Testamento.
A divindade de Jesus é proclamada com clareza no início do Evangelho de João. O apóstolo João escreve em João 1:1-3: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez."
Esta passagem monumental estabelece vários pontos cruciais:
Preexistência: O "Verbo" (grego Logos) existia "no princípio", antes de toda a criação. Isso aponta para a eternidade de Jesus.
Coexistência e Comunhão: O Verbo "estava com Deus", indicando uma distinção pessoal, mas em íntima comunhão com o Pai.
Divindade: O Verbo "era Deus", afirmando a co-igualdade e a mesma natureza divina com o Pai. Não é um deus menor, mas Deus mesmo.
Agente da Criação: "Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez." Isso coloca Jesus como o Criador ativo de todo o universo, um atributo exclusivo de Deus.
Essa descrição do Verbo em João 1 ressoa com passagens do Antigo Testamento que falam da Palavra de Deus como agente criador (Gênesis 1:3; Salmo 33:6). Ela firma Jesus como o próprio Deus em ação na criação e na revelação.
O apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 15:45, designa Jesus como "o último Adão" ou "segundo Adão": "Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante."
Esta designação é vital para entender o plano de salvação de Deus:
Contraste com o Primeiro Adão: O primeiro Adão, por sua desobediência (Gênesis 3), trouxe o pecado ao mundo e, consequentemente, a morte e a separação de Deus para toda a humanidade (Romanos 5:12)
Obediência Perfeita de Jesus: Jesus, como o segundo Adão, viveu uma vida de perfeita obediência a Deus, sem pecado. Sua obediência e sacrifício na cruz desfizeram as consequências da desobediência do primeiro Adão (Romanos 5:18-19)
Fonte de Vida Eterna: Diferente do primeiro Adão, que foi feito "alma vivente" (tendo vida), Jesus é "espírito vivificante" (que dá vida). Por meio d'Ele, a justiça e a vida eterna são oferecidas a todos que creem. Ele é a cabeça de uma nova humanidade redimida.
Assim, Jesus não apenas corrige o erro de Adão, mas inaugura uma nova ordem de existência, uma nova criação para aqueles que são "em Cristo".
A identificação de Jesus como o "Cordeiro de Deus" é uma das mais poderosas revelações sobre seu propósito redentor. Quando João Batista viu Jesus vindo em sua direção, ele exclamou em João 1:29: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo."
Esta designação tem raízes profundas no Antigo Testamento:
O Cordeiro Pascal: Remete à Páscoa judaica (Êxodo 12), onde um cordeiro sem defeito era sacrificado, e seu sangue aplicado nas ombreiras e vergas das portas protegia os israelitas da morte. Jesus é o verdadeiro Cordeiro Pascal, cujo sangue derramado na cruz oferece libertação e vida para todos que nele creem.
O Cordeiro do Sacrifício pelo Pecado: A Lei Mosaica prescrevia diversos sacrifícios de animais, incluindo cordeiros, para a expiação dos pecados (Levítico 4-5). Esses sacrifícios eram temporários e precisavam ser repetidos. Jesus, como o Cordeiro de Deus, é o sacrifício final e perfeito, oferecido "uma vez por todas" (Hebreus 9:26) para remover o pecado.
O Servo Sofredor de Isaías: A imagem do cordeiro também evoca a figura do "Servo sofredor" profetizado em Isaías 53:7: "Como ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca." Essa profecia descreve a submissão de Cristo ao sofrimento vicário para o perdão dos pecados.
A morte de Jesus na cruz, portanto, não foi um mero evento histórico, mas o sacrifício supremo e divinamente orquestrado do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo de uma vez por todas, abrindo o caminho para a reconciliação com Deus.
Todas essas afirmações bíblicas se entrelaçam para revelar Jesus Cristo como muito mais do que um homem ou um profeta. Ele é o Deus eterno, o Criador, o Redentor que desfez a maldição do pecado e o Sacrifício Perfeito que reconcilia a humanidade com o Criador. A compreensão de quem Jesus é, através destas verdades bíblicas, é fundamental para a fé cristã.