Nos dias de Herodes, rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias. Sua esposa se chamava Isabel, descendente de Arão. Ambos eram justos diante de Deus, obedecendo irrepreensivelmente a todos os mandamentos e preceitos do Senhor. No entanto, não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e ambos eram avançados em idade (Lucas 1:5-7).
Certo dia, enquanto Zacarias exercia suas funções no templo, coube-lhe, por sorteio, queimar o incenso no lugar santo do Senhor. E, ao fazer isso, todo o povo estava do lado de fora, orando. Então, apareceu-lhe o anjo Gabriel, em pé, à direita do altar do incenso. Zacarias, ao vê-lo, ficou perturbado e cheio de temor (Lucas 1:8-12).
O anjo, porém, lhe disse:
— "Não temas, Zacarias, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua esposa, te dará um filho, e porás o nome de João. Terás alegria e regozijo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento. Pois ele será grande diante do Senhor, não beberá vinho nem bebida forte, será cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe, e converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus. E irá adiante Dele no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os desobedientes à prudência dos justos, para preparar ao Senhor um povo bem disposto" (Lucas 1:13-17).
Zacarias, porém, duvidou e perguntou como isso seria possível, visto que ele e sua esposa eram avançados em idade. Então, o anjo respondeu:
— "Eu sou Gabriel, que estou na presença de Deus, e fui enviado para te falar estas boas novas. Todavia, porque não creste nas minhas palavras, que no seu tempo se cumprirão, ficarás mudo e não poderás falar até o dia em que estas coisas se realizarem" (Lucas 1:18-20).
O povo, lá fora, esperava Zacarias e se admirava de que ele demorava tanto no templo. Quando saiu, não podia falar, e perceberam que ele tinha tido uma visão. Comunicava-se por sinais e permaneceu mudo (Lucas 1:21-22). Terminados os dias de seu ministério, voltou para casa, e, depois desses dias, Isabel, sua esposa, concebeu e se ocultou por cinco meses, dizendo:
— "Assim me fez o Senhor, nos dias em que se lembrou de mim, para tirar o meu vexame entre os homens" (Lucas 1:23-25).
No sexto mês da gestação de Isabel, Deus enviou o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, vivia uma jovem chamada Maria, prometida em casamento a um homem chamado José, descendente da casa de Davi (Lucas 1:26-27; Mateus 1:18). O anjo Gabriel apareceu a ela e lhe disse:
“Salve, agraciada! O Senhor está contigo.” (Lucas 1:28).
Assustada, ela se perturbou com aquelas palavras e refletia que saudação seria aquela, mas o anjo a tranquilizou, afirmando:
— “Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará eternamente sobre a casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.” (Lucas 1:30-33).
Maria perguntou:
— "Como será isto, se eu não conheço homem algum?"
E o anjo respondeu:
— "Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo que de ti há de nascer será chamado Filho de Deus. E eis que Isabel, tua parenta, também concebeu um filho na sua velhice, e este é o sexto mês para aquela que era chamada estéril. Porque para Deus nada é impossível" (Lucas 1:34-37).
Então disse Maria:
— "Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra."
E o anjo se ausentou dela (Lucas 1:38).
Naqueles dias, Maria se apressou e foi à casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação, a criança saltou em seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo, exclamando:
— "Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre! E de onde me é concedido que venha me visitar a mãe do meu Senhor? Pois eis que, ao som da tua saudação, a criança saltou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada a que creu, porque se cumprirá o que lhe foi dito da parte do Senhor." (Lucas 1:39-45).
Então Maria entoou um cântico de louvor a Deus, conhecido como o Magnificat, exaltando a misericórdia e o poder do Senhor e permaneceu com Isabel cerca de três meses, depois voltou para sua casa (Lucas 1:46-56).
Quando chegou o tempo do nascimento de João, Isabel deu à luz um filho. Os vizinhos e parentes se alegraram com ela. No oitavo dia foram circuncidar o menino, e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias, mas Isabel disse:
— "Não; será chamado João."
Disseram-lhe:
— "Ninguém há na tua parentela que se chame por este nome."
Então perguntaram por sinais ao pai, como queria que fosse chamado. Zacarias pediu uma tabuinha e escreveu:
— "O seu nome é João"
Imediatamente sua boca se abriu, e ele falou, louvando a Deus (Lucas 1:57-64).
Todos se encheram de temor, e a notícia se espalhou por toda a região montanhosa da Judeia. Zacarias, cheio do Espírito Santo, profetizou sobre João e sobre a vinda do Messias (Lucas 1:65-79). O menino João crescia e se fortalecia em espírito, e viveu no deserto até o dia de sua manifestação a Israel (Lucas 1:80).
Antes de coabitarem, José percebeu que Maria estava grávida. Sendo ele homem justo e não querendo difamá-la, pensava em deixá-la secretamente. Porém, enquanto pensava sobre isso, apareceu-lhe em sonho um anjo do Senhor, dizendo:
— "José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua esposa, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados" (Mateus 1:18-21).
Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor através do profeta:
— "Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e chamá-lo-ão Emanuel, que significa 'Deus conosco'" (Mateus 1:22-23; referência a Isaías 7:14).
José, despertando do sono, fez como o anjo lhe ordenara e recebeu Maria como esposa, mas não a conheceu até que ela deu à luz seu filho primogênito; e pôs-lhe o nome de Jesus (Mateus 1:24-25).
Naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de todo o império. Todos iam alistar-se, cada um à sua cidade. José também subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, até a cidade de Davi, chamada Belém, por ser da casa e linhagem de Davi, a fim de se alistar com Maria, sua esposa, que estava grávida (Lucas 2:1-5).
Chegado o tempo do recenseamento, José e Maria viajaram de Nazaré até Belém, cidade de Davi, pois José era da linhagem de Davi (Lucas 2:4-5). Estando ali, cumpriram-se os dias para Maria dar à luz. E ela deu à luz seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria (Lucas 2:6-7).
Naquela mesma região, pastores estavam nos campos, guardando seus rebanhos durante a noite. Subitamente, um anjo do Senhor apareceu diante deles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor. Eles ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, lhes disse:
— “Não temais! Eis que vos trago boas novas de grande alegria, que será para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, vos nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis o menino envolto em faixas e deitado numa manjedoura” (Lucas 2:8-12).
De repente, apareceu junto ao anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo:
— "Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens!" (Lucas 2:13-14)
Quando os anjos se ausentaram, os pastores foram apressadamente até Belém e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura. Após verem, divulgaram o que lhes fora dito sobre aquele menino, e todos os que ouviram se admiraram do que os pastores lhes disseram (Lucas 2:15-18). Maria, porém, guardava todas essas coisas, meditando-as em seu coração (Lucas 2:19). E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus (Lucas 2:20).
Quando se completaram oito dias, para circuncidar o menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, dado pelo anjo antes de ser concebido (Lucas 2:21). E, cumprindo os dias da purificação, levaram-no a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, conforme a Lei. , como estava escrito:
— “Todo primogênito será consagrado ao Senhor” (Lucas 2:22-23)
Movido pelo Espírito, foi ao templo, tomou o menino nos braços e louvou a Deus, dizendo:
— "Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra, pois os meus olhos viram a tua salvação" (Lucas 2:22-32)
Ofereceram, então, o sacrifício prescrito — um par de rolas ou dois pombinhos — como era costume dos pobres (Lucas 2:24; Levítico 12:8).
Naquele momento, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão, justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava sobre ele, e fora-lhe revelado que não morreria sem antes ver o Cristo do Senhor. Movido pelo Espírito, Simeão foi ao templo e, quando os pais trouxeram o menino Jesus, tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo:
— “Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra, porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste perante todos os povos: luz para iluminar as nações, e glória do teu povo Israel” (Lucas 2:25-32).
Simeão abençoou-os e disse a Maria:
“Eis que este menino está destinado tanto para a ruína como para o levantamento de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição. Uma espada traspassará a tua própria alma, para que se manifestem os pensamentos de muitos corações” (Lucas 2:34-35)
Também estava ali a profetisa Ana, de idade muito avançada, que servia a Deus no templo com jejuns e orações dia e noite. Ela, chegando naquele exato momento, dava graças a Deus e falava do menino a todos os que esperavam a redenção em Jerusalém (Lucas 2:36-38). Depois de cumprirem tudo segundo a Lei do Senhor, José e Maria retornaram com Jesus para Nazaré, na Galileia (Lucas 2:39).
Entretanto, alguns magos do Oriente, guiados por uma estrela, chegaram a Jerusalém perguntando:
— "Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo" (Mateus 2:1-2).
Ao ouvir isso, Herodes se perturbou, assim como toda Jerusalém. Convocando os principais sacerdotes e escribas, perguntou-lhes onde o Cristo deveria nascer. Eles responderam:
— “Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo profeta: ‘E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as principais de Judá, porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo, Israel’” (Mateus 2:3-6; Miqueias 5:2).
Herodes, então, chamou os magos secretamente e perguntou a eles sobre o tempo exato em que a estrela tinha aparecido. Enviou-os a Belém, dizendo:
— "Ide e informai-vos cuidadosamente acerca do menino; e quando o encontrardes, avisai-me, para que eu também vá adorá-lo" (Mateus 2:7-8).
Eles, ouvindo o rei, partiram; e eis que a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que chegou e parou sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem a estrela, alegraram-se muito. Entrando na casa, encontraram o menino com Maria, sua mãe, prostraram-se e o adoraram; e, abrindo seus tesouros, ofertaram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra (Mateus 2:9-11). Sendo avisados em sonho para não voltarem a Herodes e a retornarem por outro caminho para sua terra (Mateus 2:12).
Após a partida dos magos, um anjo do Senhor apareceu em sonho a José e disse:
— “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito. Fica lá até que eu te avise, porque Herodes procurará o menino para matá-lo” (Mateus 2:13)
José então levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito, permanecendo lá até a morte de Herodes. Isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta:
— “Do Egito chamei meu Filho” (Mateus 2:14-15; Oséias 11:1).
Quando Herodes percebeu que havia sido enganado pelos magos, enfureceu-se terrivelmente e mandou matar todos os meninos de Belém e dos arredores, de dois anos para baixo, de acordo com o tempo que cuidadosamente averiguara dos magos. Assim se cumpriu o que fora dito pelo profeta Jeremias:
— “Ouviu-se uma voz em Ramá, lamentação, choro e grande pranto: Raquel chorando por seus filhos, e não quis ser consolada, porque eles já não existem” (Mateus 2:16-18; Jeremias 31:15).
Após a morte de Herodes, um anjo do Senhor apareceu novamente em sonho a José, no Egito, dizendo:
— “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel, porque já morreram os que procuravam tirar a vida do menino” (Mateus 2:19-20)
José, então, voltou com sua família, mas, sabendo que Arquelau reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá. Avisado em sonho, retirou-se para a região da Galileia e foi morar na cidade de Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas:
— "Ele será chamado Nazareno" (Mateus 2:21-23; Lucas 2:39-40).
O menino Jesus crescia e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava sobre Ele (Lucas 2:40).
Todos os anos, seus pais iam a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando Jesus completou doze anos, subiram segundo o costume. Ao terminarem os dias da festa e retornarem, o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais percebessem. Pensando que estivesse na companhia, andaram um dia de caminho e, então, começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. Não o encontrando, voltaram a Jerusalém à sua procura (Lucas 2:41-45).
Depois de três dias, acharam-no no templo, sentado entre os doutores, ouvindo e fazendo perguntas. Todos os que o ouviam se admiravam da sua inteligência e de suas respostas. Ao vê-lo, seus pais ficaram maravilhados. E sua mãe lhe disse:
— "Filho, por que fizeste assim conosco? Eis que teu pai e eu te procurávamos, aflitos."
E Ele lhes respondeu:
— "Por que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?"
Mas eles não compreenderam o que lhes disse (Lucas 2:46-50).
Então desceu com eles e foi para Nazaré, e era-lhes submisso. E sua mãe guardava todas essas coisas no coração. E Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens (Lucas 2:51-52).