O ministério de Jesus avançava, e as multidões continuavam a segui-lo, maravilhadas com seus milagres e impressionadas com seus ensinamentos. Entretanto, cresciam também as discussões e os questionamentos sobre quem, de fato, ele era. Percebendo isso, Jesus decidiu levar seus discípulos para uma região mais afastada, os confins de Cesareia de Filipe, ao norte da Galileia, um lugar marcado por cultos pagãos, distante da agitação das multidões e da oposição dos líderes religiosos (Mateus 16:13; Marcos 8:27).
Ali, Jesus fez uma pergunta decisiva aos seus discípulos:
— “Quem dizem os homens que eu, o Filho do Homem, sou?”
Eles responderam:
— “Uns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros ainda, Jeremias ou algum dos profetas.”
Então, voltando-se diretamente a eles, Jesus perguntou:
— “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mateus 16:14-15; Marcos 8:28-29; Lucas 9:18-20).
Foi quando Simão Pedro, movido pelo Espírito, declarou com convicção:
— “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.”
Jesus respondeu:
— “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne nem sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. E eu também te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus; tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mateus 16:16-19).
Porém, logo depois, Jesus começou a revelar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse a Jerusalém, sofresse muito nas mãos dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, fosse morto e, ao terceiro dia, ressuscitasse (Mateus 16:21; Marcos 8:31; Lucas 9:22). Pedro, tomado de perplexidade, o repreendeu, dizendo:
— “Senhor, tem compaixão de ti; isso de modo algum te acontecerá.”
Mas Jesus, voltando-se para Pedro, disse:
— “Para trás de mim, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas as que são dos homens” (Mateus 16:22-23).
Então, Jesus convocou não só os discípulos, mas também a multidão, e declarou:
— “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” (Mateus 16:24-26; Marcos 8:34-36; Lucas 9:23-25).
Cerca de seis dias depois desses acontecimentos, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou, em particular, a um alto monte para orar. Enquanto orava, aconteceu algo extraordinário: seu rosto resplandeceu como o sol e suas vestes tornaram-se brancas como a luz, resplandecentes, mais brancas do que qualquer lavandeiro na terra poderia alvejar (Mateus 17:1-2; Marcos 9:2-3; Lucas 9:28-29).
E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, que falavam com ele sobre sua partida, que haveria de se cumprir em Jerusalém (Lucas 9:31). Pedro, tomado de temor e assombro, disse:
— “Senhor, é bom estarmos aqui; se queres, façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias.”
Enquanto ele ainda falava, uma nuvem luminosa os envolveu, e da nuvem saiu uma voz que dizia:
— “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi” (Mateus 17:4-5; Marcos 9:5-7; Lucas 9:33-35).
Ao ouvirem isso, os discípulos caíram com o rosto em terra, tomados de grande temor. Mas Jesus se aproximou, tocou-os e disse:
— “Levantai-vos e não temais.”
E, erguendo os olhos, não viram mais ninguém, senão Jesus, sozinho (Mateus 17:6-8). Enquanto desciam do monte, Jesus lhes ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse dentre os mortos. Eles guardaram essa ordem, mas discutiam entre si o que significava “ressuscitar dentre os mortos” (Marcos 9:9-10; Mateus 17:9).
Ao retornarem, encontraram uma grande multidão e, no meio dela, um homem desesperado que se aproximou e clamou:
— “Mestre, rogo-te que olhes para meu filho, porque é meu único filho. Está possesso de um espírito mudo, que, onde quer que o apanha, derruba-o; ele espuma, range os dentes e vai definhando. Roguei aos teus discípulos que o expulsassem, mas não puderam.”
Jesus, então, exclamou:
“Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-o aqui.” (Mateus 17:14-17; Marcos 9:17-19; Lucas 9:38-41).
Ao trazerem o menino, o espírito maligno imediatamente o agitou com violência; ele caiu por terra, começou a se revolver, espumando. Jesus perguntou ao pai:
— “Há quanto tempo lhe sucede isso?”
Ele respondeu:
— “Desde a infância. E muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o destruir. Mas, se tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos.”
Jesus respondeu:
— “Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê.”
E, imediatamente, o pai do menino exclamou, com lágrimas:
— “Senhor, eu creio! Ajuda a minha incredulidade” (Marcos 9:21-24).
Então Jesus repreendeu o espírito imundo, dizendo:
— “Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai dele e nunca mais entres nele.”
O espírito, clamando e agitando-o muito, saiu; e o menino ficou como morto, de tal maneira que muitos diziam que estava morto. Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu, e ele ficou de pé, completamente curado (Marcos 9:25-27; Mateus 17:18; Lucas 9:42).
Depois disso, enquanto caminhavam pela Galileia, Jesus voltou a anunciar claramente sua morte e ressurreição:
— “O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens; matá-lo-ão, e, ao terceiro dia, ressuscitará.”
E os discípulos se entristeceram muito, mas não compreendiam plenamente aquelas palavras (Mateus 17:22-23; Marcos 9:30-32; Lucas 9:43-45).
Chegando a Cafarnaum, foram questionados sobre o imposto do templo. Pedro, ao ser abordado, disse que sim, que seu Mestre o pagava. Mas, ao entrar em casa, Jesus, antecipando-se, perguntou-lhe:
— “Que te parece, Simão? De quem cobram os reis da terra os tributos ou os impostos? Dos seus filhos ou dos estranhos?”
Pedro respondeu:
— “Dos estranhos.”
Disse-lhe Jesus:
— “Logo, os filhos estão livres. Mas, para que não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, e, ao abrir a boca do primeiro peixe que subir, encontrarás uma moeda; toma-a e dá-a por mim e por ti” (Mateus 17:24-27).
Seguiram-se ensinos profundos sobre humildade, perdão e serviço. Jesus tomou uma criança, colocou-a no meio deles e disse:
— “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus. Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus” (Mateus 18:3-4).
Ainda realizou outros milagres, como a cura de dez leprosos, dos quais apenas um — um samaritano — voltou para agradecer e glorificar a Deus (Lucas 17:11-19). Curou também uma mulher encurvada há dezoito anos, libertou um homem hidrópico e restaurou a visão de cegos, além de continuar a ensinar sobre a vinda do Reino, a importância da vigilância e do arrependimento (Lucas 13:10-17; 14:1-6; 18:35-43).
Enquanto caminhava decididamente para Jerusalém, onde cumpriria seu destino, Jesus seguia ensinando, curando e preparando seus discípulos para os acontecimentos finais. Seus milagres e discursos revelavam, cada vez mais claramente, sua identidade como o Cristo, o Messias prometido, o Filho do Deus vivo, aquele que veio buscar e salvar o que se havia perdido (Lucas 19:10).